QUAL O PROBLEMA DE UM PASTOR SER DIVORCIADO?
“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” (1 Timóteo 3:2-7).
Sobre a pergunta acima que dá título ao texto, alguns (talvez a maioria) responderiam que não é possível, biblicamente, um pastor não ser casado, ou ser divorciado pela lei dos homens. Outros (minoria) diriam exatamente o contrário. A resposta dependerá de como uns e outros interpretam os versículos de abertura, fazendo a conexão (certa ou errada) com outros textos bíblicos, que iremos transcrever aqui.
A pergunta acima é bem específica: Biblicamente, pode um homem divorciado ser pastor, cuidar da Igreja de JESUS? Responderei sem titubear e apresentando todos os argumentos bíblicos para a aceitação do Ministério pastoral de um homem divorciado de sua mulher.
O divórcio (como instrumento civil que permite a uma pessoa separada do seu cônjuge casar-se novamente com uma nova pessoa), como explicamos em outros estudos,NUNCA existiu nas Sagradas Escrituras. Ele surgiu a partir da Reforma Protestante (início do século XVI), ganhando força no mundo ocidental na Revolução Francesa (meados do século XVIII). O que se lê, nas versões bíblicas, como divórcio nada mais é uma falsa tradução da palavra repúdio que, para os judeus ortodoxos, poderia ser acompanhado de um libelo, escrito a mão, dado pelo marido judeu desejoso em não mais conviver com a sua esposa. Tal libelo (ou carta, como enxergam alguns) foi uma permissão dada por Moisés aos judeus, como forma de proteger a mulher de uma possível retaliação social (ainda que ela não tivesse culpa pelo abandono) e por causa da dureza do coração deles. Tal concessão não pode ser atribuída à Igreja de JESUScomo Mandamento ou parte da sã doutrina. Ela é humana, dada como permissão, e contrária à vontade de DEUS. Aos cristãos, DEUS pede que nenhum busque a separação conjugal (ou o divórcio nos dias atuais) (Mateus 19:6; 1 Coríntios 7:10-11).
Mas o fato de um marido ou uma esposa cristã ser orientado a não desejar, em seu coração, o repúdio e, consequentemente, um divórcio, não significa que ele ou ela não possa a ser vitimado por esse mal (Veja 1 Coríntios 7:15). Para ser divorciado (a), não é preciso ter querido, buscado ou desejado o divórcio. Basta que um dos cônjuges queira e deseje, e o busque na esfera Judicial, para o divórcio bater à porta de um lar cristão (Hoje, Juízes assinam o divórcio mesmo sem a presença e a assinatura de uma das partes).
A questão primordial, então, não é o estado civil de divorciado em si, mas o posicionamento do cristão após ser vitimado pelo divórcio. A Bíblia é clara que qualquer conjunção carnal, fora do primeiro casamento (estando ou não dentro da convivência conjugal) constitui-se em adultério: “Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também” (Lucas 16:18). Observe que o versículo se inicia com a partículaQUALQUER, podendo ser aplicada a qualquer indivíduo, independentemente do sexo, da religião, da nacionalidade, se tem cargos na igreja ou não. Ele serve até para os que não são cristãos ainda. Portanto, um homem, que está separado da sua esposa (ou porque quis ou porque não quis), não deveria JAMAIS desejar um novo casamento com outra pessoa, mas buscar a restauração da própria vida, da vida da sua esposa e do seu casamento.
Outro ponto merece ser considerado: o fato de uma esposa não querer mais a convivência conjugal com o seu marido, não significa que este tenha sido ruim, mau companheiro, traidor, espancador, violento. Se um marido é verdadeiramente deDEUS, ele não terá, em seu caráter, essas características ruins. Uma esposa pode ser má, sem que, necessariamente, seu marido o seja. Um marido pode ser mau, sem que, necessariamente, a sua esposa também seja. Há maridos e esposas que são preciosos filhos de DEUS, mas seus cônjuges são ímpios, imorais, beberrões, mentirosos, amigos do mundo. Nesse caso específico, a convivência conjugal se torna insuportável, pois entra na questão do jugo desigual. Ainda que uma esposa abandone o seu marido e busque o divórcio com o mesmo, por ele ter sido mau; mas se ele, posteriormente, vier a se arrepender verdadeiramente, receberá a Graça de DEUS e se tornará templo do Espírito Santo (se não se envolveu sexualmente com uma nova mulher; ou se se envolveu e deixou). O que é impossível, aos olhos de DEUS, é um suposto arrependimento, suposta entrega a JESUS, sem ser acompanhada de abandono do pecado do adultério: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas aquele que confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28:13); “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?”(Romanos 6:1-2).
Ser divorciado, contra a própria vontade, não é pecado aos olhos de DEUS. Pecado é ser divorciado da primeira esposa e buscar satisfação sexual no corpo de outra mulher. Essa orientação também é válida para as mulheres.
Assim, um homem divorciado, contra a própria vontade, se é uma pessoa exemplar no comportamento, e se recebeu o chamado de DEUS para o ministério pastoral, pode, sim, exercê-lo tranquilamente, desde que a sua vida esteja em conformidade com a sã doutrina no que se refere à santidade.
O que Paulo aconselhou a Timóteo (ambos eram solteiros) foi que a conveniência, o padrão cristão para os homens que desejam o episcopado é que estes, se casados, sejam maridos de uma só mulher, que tenham filhos debaixo da sujeição e que governem bem as suas próprias casas. É claro que haveria aqueles que, sequer, seriam casados, mas que se dedicariam integralmente ao Ministério, como fez, por exemplo, o apóstolo Paulo. Se a atribuição ao governo da Igreja exigisse apenas que os homens fossem casados, então a credibilidade do chamado de JESUS àqueles que fizeram parte do Seu Ministério apostólico seria desfeita automaticamente. Na ocasião, apenas Pedro era casado; mas, mesmo assim, sabe-se que chegou a ficar viúvo sem buscar um novo casamento. Quando JESUS os ensinou sobre a importância do casamento, a conclusão de todos foi uma só: “(...) Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar” (Mateus 19:10). Então JESUSlhes respondeu: “(...) Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da sua mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o”(versículos 11 e 12).
Por fim, usar 1 Coríntios 9:5, de forma descontextualizada, para justificar que os demais apóstolos eram casados, é uma maneira irresponsável e herege de usar a Palavra de DEUS. Nesse texto, Paulo se referiu àqueles que o condenavam e o proibiam de se casar (os mesmos que ignoravam o chamado apostólico dele). Aliás, não proibiam somente ele, mas também ao irmão Sóstenes, que dividiu a autoria da Carta com o apóstolo (releia o primeiro versículo dessa Epístola). No capítulo 9, versículo 5, Paulo fala em defesa dele mesmo e de Sóstenes: “Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1 Coríntios 9:5). Paulo apenas cobrava o direito ao casamento àqueles que o impediam a isso. Na Primeira Carta que escreveu a Timóteo, capítulo 4, Paulo se referiu de forma contundente a esses que proibiam o casamento, chamando-os de espíritos enganadores: “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças” (1 Timóteo 4:1-3).
O problema não está em não querer casar ou ser divorciado pela lei dos homens. A questão principal é se tem uma conduta em conformidade com o padrão de santidade que DEUS exige para a Igreja no geral, e para, especificamente, àqueles que ELEchamou para o Ministério pastoral. Assim, não desconfie jamais dos pastores divorciados, e que vivem uma vida reta e santa aos olhos de DEUS; mas desconfie daqueles que se dizem pastores e, sequer, têm condições de discernir perfeitamente as questões espirituais mais elementares da sã doutrina. Desconfie, aconselhe-os a largar o falso chamado e vender pipoca nas praias e se aparte desses!
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