Introdução
Deus chamou Isaías para ser porta-voz de Sua mensagem. Foi quando da morte do rei Uzias — num tempo de prosperidade em Judá. Ao mesmo tempo, Amós e Oseias eram os porta-vozes do Senhor no reino dividido de Israel. Aparentemente, tudo estava bem em ambas as partes; mas Isaías, profeta de Deus, pela inspiração divina, observou que essa prosperidade servia de capa para esconder muita corrupção no meio do povo judeu. Havia muita avareza, muito abuso de poder e esquecimento dos deveres morais e espirituais, ainda que o povo aparentasse certa rigorosidade na observância às formas religiosas.
A Bíblia diz: Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra [...] Quando, pois, tiverdes entrado na terra que o Senhor vos dará, como tem prometido, guardareis este culto (Is 1.19; Ex 12.25).
1 – O Falso Culto Denunciado (Is 1.10-15)
Os denunciados, príncipes de Sodoma e povo de Gomorra (v. 1), são comparados aos príncipes de Judá e aos habitantes da Cidade Santa — Jerusalém (cf. Mt 4.5). Por quê? Os dirigentes e o povo eram culpados dos pecados que, eventualmente, conduziriam essas cidades à destruição. Posteriormente, Ezequiel fez a mesma comparação, delatando inclusive os pecados das cidades: Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim... (Ez 16.49. Veja vv.50-60).
Face ao exposto, o que não interessa a Deus:
a) Expressões vazias de devoção ao Senhor. Ritualismo vazio e seguimentos decorados não são do interesse de Deus: De que Me serve a Mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Estou farto dos holocaustos de carneiros, e de gordura de animais cevados, e não Me agrado do sangue de novilhos nem de cordeiros, nem de bodes (v. 11). Tais ofertas, embora corretas segundo a Lei, perderam o valor, porque partiam de corações pecaminosos e mãos manchadas. Deveriam ser expressões de devoção a Deus, acompanhadas de arrependimento, humildade, louvores e justiça. Infelizmente, o Diabo engana os homens fazendo-os pensar que atos formais ― ritos, cerimônias, cultos de aparência, “retetés”, histerias, movimento do cai-cai, unção do riso, fumaça e jogo de luzes coloridas no altar, “shows”, coreografias, teatros, retiros, movimentos corporais imitando os cultos de origem africana, danças, procissões, movimento de “adoradores”, etc. ― constituem a essência do culto, e Deus os aceita no lugar de um coração quebrantado. Jesus não denunciou os fariseus porque pagavam o dízimo até da hortaliça, mas porque deixavam de obedecer às coisas mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé (Mt 23.23). Na verdade, embora pareçam muito espirituais, não passam de “ventos de doutrinas” (Ef 4.14) e “doutrinas várias e estranhas” (Hb 13.9), pois, em muitos casos, são heresias, sem nenhum fundamento bíblico, as quais levam o engano às pessoas que, infelizmente, não estão preparadas para rebatê-las, já que o culto ao Eterno é racional, com uso do entendimento, com decência e ordem, a fazer com que “os espíritos dos profetas sejam sujeito aos próprios profetas” (Rm 12.1; 1Co 14.15,32). A fórmula de Deus ainda é a antiga: um avivamento verdadeiro nasce tão só pela Palavra, pelo temor e pela oração (Hc 3.2; At 1.14). E isto nos basta!
Não são expressões de devoção ao Cristo de Deus o que os “cafetões da prosperidade” — filhos de Satanás, os quais ensinam por interesse e fazem negócios na Casa de Deus (2Pd 2.1-3; Mq 3.11) ― têm demonstrado pomposamente na época presente. Eles são falsificadores da Palavra de Deus (2Co 2.17) e falsos apóstolos (2Co 11.15). Não servem ao Salvador Jesus, mas ao próprio ventre: terríveis inimigos da cruz de Cristo (cf. Fp 3.18,19), fazendo do Evangelho “causa de ganho” (1Tm 6.5).
Nas igrejas dos “cafetões da prosperidade” impera o “misticismo”. O que é “misticismo”? “É a crença, que eles abraçaram do paganismo, segundo a qual é possível alcançar uma comunhão com Deus através de símbolos, rituais e objetos tidos como “sagrados”; meios visíveis (apalpáveis) para alcançar a fé no Deus invisível; depositar a fé em coisas inanimadas, atribuindo-lhes poder para o alcance de uma bênção”. Por isso, nos cultos desses “vigaristas da prosperidade” são distribuídos amuletos ao povo como “pontos de contacto de fé” ― ou seja, meios de depositar a fé em Deus. Sabemos que “amuleto” é “qualquer objeto que uma pessoa atribui poder espiritual para se proteger de influências malignas, diabólicas, enfermidades, etc.; objeto que alguém consagra a fim de, por meio dele, ser abençoado, sendo um símbolo de fé que o levará a Deus e a conquistas de bênçãos, curas, livramentos, etc.”
Em agudo contraste a isso, a Bíblia destrói de todo os falsos ensinos dos “cafetões da prosperidade”. O que é fé? A resposta está em Hebreus 11.1: “Ora a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. O versículo é muito claro: “que se não veem”. Logo, se o cristão coloca a fé dele em quaisquer coisas que vê, elas tornam-se “amuletos” e o pecado que pratica é o “misticismo”.
O Livro de Deus veementemente condena tais procedimentos: “Nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida e a respiração a todas as coisas” (At 17.25). Por consequência, o salvo em Jesus não pode ser como os gregos (de Atenas) pagãos e idólatras, que queriam buscar o Senhor, porém, desejavam um símbolo de fé; isto é, “tateavam” (apalpavam; tocavam nas coisas) querendo O encontrar (cf. At 17.27). Além do mais, isso é tipo de idolatria, visto que tira o primeiro lugar do Todo-Poderoso, o Deus invisível, do coração do homem. A Escritura ressalta: “Guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21).
Com efeito, os “cafetões da prosperidade” oferecem vários amuletos em suas igrejas caídas, mortas e sem o Espírito Santo! Dentre os quais: selo da prosperidade, credencial da prosperidade, água ungida, espada de Gideão, pedra de Davi, rosa ungida, fogueira santa, fronha dos sonhos, sabonete do descarrego, ponto de luz, um par de meias consagradas, chave da vitória, cântaros, grudar (atribuindo poder ao papel) o Salmo 91 ou envelopes do “livramento” na porta (ou andar com ele na bolsa, na carteira, etc.) achando que trará proteção — tudo isto não passa de amuletos e exposição do misticismo e da doutrina de satanás no seio da Igreja.
O salvo crê sem ver: isto é fé! “Pela fé [Moisés] deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível” (Hb 11.27). E mais: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que não se veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.18).
Nada o crente precisa para se apoiar ou se achegar a Deus. Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5). Temos a Palavra, e Ela nos basta! (Js 1.8,9). Sobre o justo está a bênção do Senhor (Sl 3.8), e não sobre objetos inanimados... É devido a isso que o cristão tem de andar em Espírito! (Gl 5.16).
b) Coração longe de Deus. A mera frequência aos cultos de nada serve. O versículo 12 denuncia o costume de apenas “pisar os átrios do Senhor”, pensando que a presença física e um ato religioso são suficientes. Há gente que está fisicamente na igreja, mas o coração está muito longe de Deus (Mc 7.6).
c) Perda do valor espiritual. Deus recusa as formalidades (Ec 5.1-7). A Escritura diz: Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso e para Mim abominação, e também as luas novas, os sábados, e a convocação das congregações... (v. 13). As ofertas aludidas eram as ofertas de manjares de cereais (Lv 23.13,14), porém representavam apenas atitudes exteriores. As luas novas (quer dizer, festas mensais — Nm 28.11-14), o sábado e a convocação das congregações — festividades semanais e anuais, respectivamente (1Cr 23.31) eram características do culto judaico (2Cr 2.4; 8.13; 31.3; Ez 45.17; Os 2.11; Cl 2.16,17), mas destituídas de valor espiritual, pois eles (os israelitas) estavam sujos, rebeldes, cheios de iniquidades. Por isso, Deus escondia deles o Seu rosto (v. 15). Davi disse: Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá (SI 66.18). Maldade, violência, injustiça, hipocrisia e falta de compromisso: estes eram os grandes pecados daquele povo (Is 1.15-17). E parece que continuam sendo os mesmos pecados dos homens, até hoje! (Mc 7.21-23).
2 – O Verdadeiro Culto (Is 1.16-20)
Tendo denunciado todos os erros daquele povo e a ineficiência de seu culto, o profeta Isaías apresenta o que Deus realmente demanda para que o culto seja verdadeiro. O verdadeiro culto ao Senhor consiste nas práticas da justiça e retidão, efetivadas por corações arrependidos e convertidos, e não em meros ritos religiosos.
a) Necessidade do Arrependimento. O versículo 16 diz: Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus olhos. Só assim seria possível afastar a ira de Deus. Somos cuidadosos de lavar os nossos corpos e de remover o lixo de nossos lares, consequentemente, devemos ser para a remoção de nossos pecados. O versículo 17 fala especialmente aos mais aquinhoados da nação, a fim de fazerem justiça aos pobres não aceitando subornos — prática comum em todos os tempos.
b) O perdão prometido. Vinde, então, e arguir-Me, diz o Senhor... (v. 18). Deus estende um convite amável ao pecador querendo estabelecer diálogo com ele. Na verdade, o Senhor até lança um desafio: “arguir-Me!”; isto é, “examina-Me!” Não é um caso de tirania, exigindo-se o impossível, ou um faraó mandando fabricar tijolos sem fornecer barro!... Pelo contrário, vemos a ação de um Deus amoroso que quer ajudar o Seu povo: Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.
c) A última alternativa. O Senhor dá a Israel estas opções: O Seu governo ou a espada dos inimigos, a vida ou a morte, o bem ou o mal, a bênção ou a maldição. Estava com eles a decisão. Se recusassem a proposta favorável de Deus, não teriam nenhuma desculpa (vv. 19,20).
3 – O Ensino de Jesus sobre o Culto Verdadeiro
Em João 4.20-22, vemos a mulher samaritana levantando uma questão teológica (popular entre judeus e samaritanos) a respeito de onde deveria adorar o Senhor. Jesus disse-lhe: Deus é Espírito, e importa que os Seus adoradores O adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24). Notemos na pregação de Jesus os seguintes pontos:
a) Deus é espírito. A mulher estava equivocada, pensando que Deus estivesse apenas em um determinado lugar (Jo 4.20); mas Deus é Espírito, e não se limita a certos lugares: nem ao tempo nem ao espaço — 1Reis 8.27. Portanto, Ele está onde estão os Seus verdadeiros adoradores em todo o mundo; também com os tais nas congregações e denominações que formam a Igreja Invisível (Jo 4.23; Hb 12.22,23).
É importante explicar a diferença entre congregação, denominação e Igreja Invisível. Vejamos; — Congregação: Lugar onde os membros de uma igreja cristã se reúnem, participam da comunhão e prestam culto a Jesus. Geralmente são pequenas e estão presentes em bairros, vilas, etc. É subordinada a uma igreja maior, chamada de sede.
— Denominação: Uma igreja cristã que possui membresia, corpo de obreiros e direção pastoral independente. Apregoa as doutrinas fundamentais da fé a par do Cristianismo histórico e verdadeiro. Ex.: Trindade, Inspiração da Bíblia, Divindade de Cristo e do Espírito Santo, Salvação pela graça por meio da fé, Inferno como lugar de punição eterna, Imortalidade da alma, etc. O contrário de denominação é “seita” — que, segundo Josh McDoweell e Don Stewart, “é uma perversão, uma distorção do Cristianismo bíblico e/ou a rejeição dos ensinamentos históricos da Igreja de Cristo.”
— Igreja Invisível: O conjunto de crentes salvos de todo o mundo (Mt 16.18; Gl 1.13). Todos os que são lavados e remidos pelo sangue de Jesus (Hb 12.21,22; Ap 22.14). O total dos salvos de todos os tempos (Ef 1.20-23).
b) A importância da adoração. Jesus mostra que o importante não é “onde” adoramos, mas, sim, “como” adoramos. Conforme as tradições seguidas pelos judeus e samaritanos, o texto diz: Nossos pais adoravam nesta montanha (Jo 4.20). É necessário saber que o Senhor não está preocupado “onde” O adoramos, porém “como”. Ou seja: “o modo”, “a maneira” de adorá-Lo. E o seu culto é genuíno? Nele está presente o Espírito de Deus?
c) O significado do verdadeiro culto. Tal qual Israel, no tempo de Isaías, a samaritana não percebia que os ritos religiosos de nada valiam se ela permanecesse no pecado. Jesus, em seguida, explicou-Ihe que o verdadeiro culto consiste em adorar a Deus (Jo 4.21). Destes dois modos entendemos a adoração de um genuíno culto ao Senhor: (1) “em espírito” — isto é, um culto de natureza espiritual, baseado no fruto do arrependimento, na conversão e no sincero amor. (2) “em verdade” — quer dizer, acompanhado por um caráter transformado pelo poder de Deus, que O serve em santidade (cf. Ef 4.23,24).
d) O coração quebrantado. O legítimo culto é prestado de coração: Os sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; um coração compungido e contrito, Deus, não o desprezara (SI 51.17); O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito, e que treme diante da Minha Palavra (Is 66.2).
Conclusão
Esforcemo-nos para alcançar o tipo de culto a Deus que Paulo recomenda em Efésios 3.16,17.
Só lembrando que o verdadeiro culto é fundamentado na Palavra de Deus. Esse é o genuíno culto cristão na sua forma e no seu conteúdo, pois a Bíblia revela o conjunto de maneiras de render um verdadeiro culto ao Altíssimo:
1) Através da leitura e do estudo da Palavra (Ap 1.3; 2Tm 2.15; 3.15);
2) Por meio da pregação do Santo Evangelho (2Tm 4.2);
3) Por intermédio de hinos espirituais que louvam tão somente ao Senhor Jesus, e não dessas profanações que atualmente se chamam “hinos”, que só louvam o “ego” das pessoas (Cl 3.16; Tg 5.13; Am 5.23);
4) Através da oração incessante (1Ts 5.17; Ef 5.18), da busca do Batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais (Lc 11.13; At 1.8; 1Co 12.1-11,28-31; Hb 2.4);
5) Por meio de apresentar o corpo em sacrifício vivo ao Senhor, ex.: jejuando e se santificando em toda a maneira de viver (Rm 12.1; Mt 9.15; 17.21; 1Pd 1.15,16);
6) Pelas boas obras (Hb 13.16; Fp 2.10);
7) Através de ofertas e dízimos (Fp 4.18; Lc 6.38).
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