FORMAÇÃO DE PREGADORES
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que MANEJA BEM a palavra da verdade”. II Timóteo 2:15
“Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia cousas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” - Isaías 52:7
“...prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” - II Timóteo 4:2
INTRODUÇÃO
Nosso objetivo é passar a todos os interessados noções básicas de Homilética, Hermenêutica, Exegese e Retórica, a fim de ajudar a preparar obreiros para a pregação do Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Aqueles que desejarem se aprofundar em seus estudos e pesquisas sobre a arte de pregar, devem procurar estudar também um pouco sobre “Dialética” (= a arte de raciocinar; lógica; arte de argumentar ou discutir ) e também cursos práticos de Português com abordagem de “Técnicas de Redação”. Cursos de técnicas de impostação de voz também poderão ser muito úteis. Aqueles que tiverem dificuldades na “fala” ou problemas relacionados à “dicção” devem recorrer ainda aos serviços profissionais de um “Fonoaudiólogo”.
Finalmente, é recomendável que todos os pregadores passem por um Curso Teológico básico (equivalente ao segundo grau - secundário) ou Bacharel (equivalente ao terceiro grau - superior), para aprimorar os seus conhecimentos em muitas outras matérias que não serão aqui abordadas, tais com: - Dialética, Grego, Hebraico, Inglês, Teologia Sistemática, Psicologia ( Geral, da Religião, Pastoral ), Música, Filosofia, Heresiologia, Geografia Bíblica, História da Religião, História da Igreja, Introdução à Teologia do Velho e do novo Testamentos, Administração Eclesiástica, etc.
I - DEFINIÇÕES
Segundo alguns dicionários, “exegese, hermenêutica e homilética” significam a mesma cousa, porém, para nós, evangélicos, costumamos fazer as seguintes distinções:
a) HERMENÊUTICA - É a arte de interpretar textos inseridos no seu contexto;
b) EXEGESE - É a arte da interpretação minuciosa de um texto;
c) HOMILÉTICA - É a arte de se preparar, organizar e apresentar o sermão, palestra, discurso ou estudo;
d) RETÓRICA - É a arte de falar e argumentar em público, através de sermõs, palestras, discursos e estudos.
II - O “PREGAR” O EVANGELHO
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que MANEJA BEM a palavra da verdade”. II Timóteo 2:15
O conceito bíblico de pregação é um anúncio, uma proclamação de boas novas, o kerygma (mensagem) revelado pelo Espírito de Deus.
Assim sendo, o pregador não pode e não deve falar qualquer coisa, e também não deve escolher preciptadamente este ou aquele assunto... É preciso buscar a direção de Deus para saber qual o assunto a ser abordado em cada ocasião. É preciso saber o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja! A definição de tema ou assunto, e/ou do texto, devem ser obtidos no Espírito, através de oração e de comunhão com Deus. O pregador precisa ter a certeza da direção divina para a palavra que proferirá.
A única pregação eficaz é a que é feita “em demonstração de espírito e de poder” - I Cor 2:4-5
A pregação ocupava boa parte do ministério pessoal de Jesus - Mt 4.23; 9.35. E Jesus disse: “Eu vos envio como o Pai me enviou” - Lucas 4.18-21
III - OUTROS CUIDADOS QUE O PREGADOR DEVE TER
a) Na área espiritual - o pregador precisa preocupar-se e ter zêlo em relação a:
- sua piedade pessoal - é preciso estar disponível para ser usado por Deus;
- estar sempre estudando a Palavra, pois é a Palavra que ele interpretará;
- ter fé espontânea e corajosa, porém serena e tranquila que demonstre a sua real confiança em Deus;
- a convicção de chamada e de envio, aliada a uma reconhecida vocação cristã;
- ser humilde, despido de qualquer vaidade;
- ter espírito de oração, de forma a ser sempre um canal livre para a comunicação do Alto;
- ter uma boa visão e discernimento da obra, em suas diferentes nuances;
- ter sensibilidade espiritual e unção do Espírito;
- ter profundo amor e paixão pelas almas perdidas e pelas ovelhas do rebanho.
b) a nível físico/natural - o pregador precisa cuidar:
- da sua aparência e higiene pessoal;
- do desenvolvimento sóbrio e fecundo da sua inteligência;
- do exercício frequente e sábio da sua memória;
- do adestramento frequente da sua dicção;
- do cuidado com a sua saúde pessoal e com a sua alimentação;
- do aprimoramento incansável dos seus conhecimentos do idioma;
- de ter boa cultura geral e estar sempre bem informado;
- da sua preparação psicológica.
IV - A TOTAL DEPENDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO
Feita a sua parte, que consiste em se preparar da melhor forma possível, em todos os aspectos, o pregador precisa estar consciente de que, em todo o tempo, deverá caminhar na total depenência do Espírito Santo; nunca confiar nos seus próprios méritos ou suposta capacidade. A pregação é a semeadura, e isto o homem deve fazer da melhor forma possível; contudo, o crescimento da semente e o fruto são obra do Espírito Santo. O pregador poderá até fazer um convite para que as pessoas se posicionem ou se manifestem, de alguma forma, em relação a palavra ouvida. Contudo, o verdadeiro apêlo é aquele que o Espírito Santo faz, de forma silenciosa, invisível, diretamente ao coração do ouvinte! É até possível através de uma boa oratória persuadir a platéia, porém, o verdadeiro convencimento, a verdadeira conversão, o verdadeiro arrependimento para a vida, somente o Espírito Santo poderá operar no coração do pecador. A perícia se adquire com dedicação e denodo, porém a unção somente Deus no-la pode dar! Pregação sem unção é mera falácia!
V - RELAÇÃO DA HOMILÉTICA COM A RETÓRICA
Juntamente com a língua grega, veio a retórica grega. No final do século IV a retórica grega havia alcançado o seu maior desenvolvimento na oratória de Demóstenes e no famoso tratado de Aristóteles sobre a retórica. Posteriormente vieram contribuições de oradores romanos, notadamente Cícero e Quintiliano. A retórica ensinava o estudante na arte de se expressar com facilidade, com frases apropriadas e irresistíveis, levando-o a obter o melhor resultado possível, especialmente na tribuna e no senado.
A prédica cristã começara na palestina. Os primeiros pregadores, auditórios, formação e afinidades espirituais eram judaicas. A maneira de se pregar contudo, seguia o estilo dos Profetas do Velho Testamento e o padrão rabínico, porque a retórica perdera o crédito para os judeus, em razão de advogados inescrupulosos e falsos mestres dela se utilizarem vergonhosamente com sofismas para fazer com que o pior parecesse o melhor, dando a mentira um ar de verdade! Assim pois, se fez a prédica primitiva à maneira e cultura judaica e não da gentílica. E ao sermão de dava o nome de homília.
Entretanto, com a disseminação do Evangelho entre as nações gentílicas, em cujo seio as tradições e formas judaicas eram pouco conhecidas, e com a conversão de homens que já tinha sido treinados na retórica, os quais, dia-a-dia se tornavam pregadores, e, naturalmente, usavam os seus dotes retóricos na proclamação do Evangelho. Assim, gradativamente, a homília (em voga até o século III) cedeu lugar ao sermão mais elaborado. Homens piedosos como Gregório, Crisóstomo, Ambrósio e Agostinho, elevaram a prédica cristã a níveis nunca antes alcançados pelos gregos, e a transformaram em um instrumento de poder espiritual, entre pessoas de todos os níveis, cultas e incultas. Assim foi que surgiu a Homilética, que nada mais é do que a adaptação da retórica às finalidades especiais e aos reclamos da prédica cristã.
VI - PERIGOS RELACIONADOS A RETÓRICA
Uma cousa é adesão, outra bem diferente é conversão. Os métodos retóricos são e serão sempre limitados. Só há conversão quando o Espírito Santo convence o pecador do seu pecado. O convencimento intelectivo poderá produzir apenas “adesão”. O Apóstolo Paulo temia que com “palavras persuasivas” viessem a insinceridade e o orgulho ao coração do semeador, estando ele vazio. Muitos recursos de retórica, sem humildade, unção, e dependência da ação do Espírito Santo, podem fazer do orador um dominador de assembléias ao invés de uma testemunha ou companheiro de adoração.
Os recursos da homilética e da retórica devem ser utilizados com temor e reverência, na dosagem certa e com humildade, na total dependência do Espírito Santo, para que se o auditório sentir o desejo de aplaudir, oplauda o Criador, pela grandeza do Seu Amor, pela verdade ouvida, e não o pregador pelo seu desempenho! E, em havendo aplausos, aclamações, elogios, que o pregador seja humilde e transfira os louros para Deus, reconhecido de que, se a bênção fluiu é porque o Espírito Santo esteve presente e trabalhando em todos e sobre todos, inclusive no seu próprio desempenho na tribuna.
a) Demasiada ênfase a regras e fórmulas - O pregador precisa dar sempre maior atenção a princípios do que a regras e regulamentos. O pregador deve lembrar sempre que o objetivo da prédica é elevar o ânimo do ouvinte, despertar a sua imaginação, mexer com os seus sentimentos e impelir poderosamente a sua vontade na direção daquilo que a verdade impõe, que em relação a prédica cristã será sempre o crer e confiar em Deus, em toda e qualquer circunstância. Em certas circunstâncias, o pregador poderá até o violar as boas regras da homilética e da retórica, mas nunca quebrar ou contrariar princípios bíblicos! Lembre-se: “A melhor qualidade dum sermão não é o fato de ele ser bastante homilético, e sim o de mover e comover as almas para aceitarem o Reino de Deus e a sua justiça” - John A. Broadus.
b) Imitação e plágio - Existe a imitação consciente e a inconsciente. As duas são prejudiciais, conquanto a última seja menos censurável. Podemos apreciar e procurar até assimilar as boas qualidades observadas em outros pregadores, nunca porém devemos imitá-los! Lembremo-nos sempre de que Aquele que Chama, é o mesmo que Capacita, e dá dons aos homens! Deus usa cada um de uma forma, e, certamente, poderá se utilizar de você dentro do seu próprio estilo. É lícito utilizar expressões e ilustrações originárias de outros pregadores, desde que se cite a fonte! Procure exercitar sempre a prática de preparar os seus próprios sermões, pois isto levará você a crescer na arte da prédica. Inspirar-se com a prédica de outros oradores é até natural, agora imitá-los conscientemente é algo que se deve evitar. O plagio ou imitação conduzem sempre o orador à superficialidade, uma vez que ele nunca será original! Quando o pregador desenvolve o seu próprio raciocínio e segue o caminho traçado pelo seu próprio pensamento, o seu desempenho é muito mais satisfatório. Seja sempre você mesmo, evite imitações!
c) Artificialismo - “Em toda a fala, especialmente na pregação, a naturalidade e a genuinidade, ainda que embaraçadas, são realmente mais eficientes do que o mais elegante artificialismo.” - John A. Broadus. O perigo do artificialismo é muito grande, a pessoa se sente embaraçada, dentro de uma situação nova e estranha. Deve-se evitar todo e qualquer artificialismo intencional, e mesmo aqueles involuntários e inconscientes. O pregador deve visar sempre uma pregação genuína, de boa fé, original, ser o mais natural possível, dominar bem o assunto, inspirar confiança, nunca pregar baseado apenas na prática, o seu compromisso maior é enfatizar aos ouvintes as verdades contidas na Palavra de Deus!
VII - COMO AVANÇAR NO ESTUDO DA HOMILÉTICA E DA RETÓRICA
Além dos inúmeros tratados sobre prédica disponíveis hoje no mercado literário, você pode recorrer ainda às seguintes fontes:-
a) procure ouvir bons pregadores - os sermões que ouvimos, quando escutados em espírito de oração, e com o intuíto de aprendizado, muito podem nos ajudar;
b) procure sempre ter à mão papel e caneta para suas anotações pessoais enquanto ouve ouros pregadores - além de montar um esboço, do seu jeito e com as suas palavras, das verdades que se sobressaem em sua mente, em algumas oportunidades a partir do sermão que ouvimos poderemos ter a inspiração para criar outros sermões derivativos ou até mesmo sobre temas diferentes - é bom anotar, porque a inspiração vem e passa! E depois você poderá não se lembrar mais!
c) adquira livros de sermões publicados (ou de esboços) de renomados pregadores - leia-os e examine-os à luz da Bíblia - e se resolver utilizá-los, procure reescrevê-los segundo a suas próprias idéias e inspirações;
d) leia a biografia de grandes pregadores do passado, certamente serão de grande inspiração e muito lhe motivarão;
e) solicite ao seu pastor, professores, e companheiros da seara, comentários sobre o seu sermão, ouça o que eles têm a dizer - tais críticas serão sempre úteis e proveitosas.
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