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O ENSINO BÍBLICO SOBRE O PODER DO JEJUM

O Ensino Bíblico sobre o Poder do Jejum



1 – O Que é o jejum bíblico?

          O jejum, segundo a Palavra do Senhor, é a abstinência total de alimentos com finalidades espirituais. Essa prática vem desde o Antigo Testamento, em que o povo de Israel jejuava por diferentes razões, de sorte que temos exemplos de servos de Deus que jejuaram e obtiveram a resposta de Deus:

            a) Davi: “Quando chorei, e castiguei com jejum a minha alma, isto se me tornou em afrontas” (Sl 69.10); “E buscou David a Deus pela criança; e jejuou David, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra” (2Sm 12.16).

           b) Ester e o povo judeu: “Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas servas também assim jejuaremos. E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci” (Et 4.16).

          c) Esdras e o povo judeu: “Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para lhe pedirmos caminho seguro para nós, para nossos filhos e para todos os nossos bens... Nós, pois, jejuamos, e pedimos isto ao nosso Deus, e moveu-se pelas nossas orações” (Ed 8.21,23).

        d) O rei e o povo ninivita por causa da pregação de Jonas: “E os homens de Nínive creram em Deus; e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor. Esta palavra chegou também ao rei de Nínive; e ele levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza. E fez uma proclamação que se divulgou em Nínive, pelo decreto do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem se lhes dê alimentos, nem bebam água” (Jn 3.5-7).



2 – A prática do jejum no Novo Testamento

            a) A Igreja de Antioquia. A prática do jejum foi incorporada no Novo Testamento, em que, entre outros casos, a Igreja em Antioquia (capital grega da Síria) é uma clara demonstração de que os crentes primitivos utilizaram-na a fito de obterem bênçãos espirituais e orientação do Espírito de Deus em tudo: E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (At 13.2,3).

           b) O Apóstolo Paulo. Outro exemplo de uma vida consagrada ao Deus Altíssimo em jejum é a do Apóstolo Paulo, que, desde a sua conversão, jejuou a fim de purificar-se para ser utilizado pelo Senhor Jesus: E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu... E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado. E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco (At 9.9,18,19).
Posteriormente, em seu ministério, Paulo vencia as batalhas e era fervoroso cristão porque orava e jejuava: Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns...” (2Co 6.4,5); Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez” (2Co 11.27).

          c) Os discípulos de João Batista jejuavam: Disseram-lhe então eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem? E ele lhes disse: Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias virão, porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão (Lc 5.33-35).
                  


3 – O ensino do jejum do Novo Testamento

           Estamos debaixo da “Lei de Cristo” (1Co 9.21), portanto, o jejum, efetuado pelos cristãos, será conforme os ensinamentos do Novo Testamento, já que estamos edificados no fundamento do Senhor Jesus e dos apóstolos (Ef 2.20,21). Não que seja totalmente diferente do jejum do Antigo Testamento; porém, como “a graça de Deus manifestou-se a trazer salvação a todos os homens” (Tt 2.11), e tal “graça veio por Jesus” (Jo 1.17), são implementados os ensinamentos de Cristo Jesus no jejum, dando-nos um “espírito novo” no ato de jejuar.
Logo, o jejum neotestamentário (do Novo Testamento):

          a) Não é fruto nem motivo de tristeza: “E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam...” (Mt 6.16);

              b) Não é para ser visto pelos homens, mas tão somente aceito por Deus: “Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas...” (Mt 6.17,18);

             c) Não é um ato de penitência, mas de adoração ao Senhor: A fim de que não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente (Mt 6.18).



4 – Outros jejuns existentes

       a) Jejum parcial. Compreende apenas a abstenção de determinados alimentos, enquanto outras alimentações são ingeridas. Os que usam esse pressuposto para jejuar, citam que Daniel comeu apenas legumes e bebeu água (Dn 1.11-14); entretanto, Daniel não fez jejum parcial. Isso não está na Bíblia. Em Levítico 11 eram apresentadas as leis dietéticas do Judaísmo e, como os babilônicos não seguiam tais leis, comendo comidas impuras rechaçadas pelos judeus, ele não podia pecar contra o Senhor e transgredir a Lei de Moisés (Dn 1.5-8). Sendo assim, Daniel não comeu a ração do rei porque esta era imunda, pois, se a ingerisse, desobedeceria Lei de Deus. Portanto, o jejum parcial não tem respaldo na passagem de Daniel.

             b) Jejum total. É a abstenção de todo alimento, exceto água.

            c) Jejum de contrição. Muitos — que fazem esse jejum — alimentam-se de pão e água. Ou seja, pode-se tomar água e, até mesmo, comer pão. Não é pautado na Palavra de Deus.

             d) Jejum absoluto. Este é abstenção total de todo alimento e água, como ordenou Ester aos judeus, o rei de Nínive e foi praticado por Paulo imediatamente após a sua conversão (Et 4.16; Jn 3.5-7; At 9.9, etc.). Este tem vários registros na Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamentos.



5 – Porque praticar o jejum?

            a) É um ato de consagração a Deus. O jejum é parte do “culto racional” (Rm 12.1), pois ele simboliza o ato de entrega — sem reservas — ao Senhor, através do despojamento da própria carne.
            “Carne” representa os “atos transgressivos praticados pela natureza humana”, portanto, é tudo que contribui para o bem-estar da vontade perversa do homem (cf. Rm 7.18,19), que, ao ser consumada, leva-o para fora dos preceitos de Deus e da Sua Palavra (Rm 8.7,8). Dentre as obras pecaminosas da carne, é-nos revelado: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedeiras, glutonarias, homossexualidade, ladroíces, roubos, devassidão, desobediência, avareza, torpezas, parvoíces (tolices), chocarrices (ditos zombeteiros, gracejo indecente), etc. (Gl 5.19,20; 1Co 6.10; Ef 5.4,5).
          Conquanto o jejum seja uma prática distinta em si mesma, é a força da oração que o impulsiona. Quando o crente se dedica à oração, o jejum é consequência natural, visto que a comunhão com Deus o leva a colocar suas necessidades físicas em plano secundário. Por isso, a carne é vencida pela força do jejum e da oração, pois é operada a vontade de Deus.

            b) Libera o espírito para a comunhão com Deus. Outro efeito do jejum é que ele libera o espírito para entregar-se por inteiro ao relacionamento íntimo e pessoal com Deus. O espírito foi soprado por Deus no homem (Gn 2.7); consequentemente, ele anela pelo Todo-Poderoso (Mt 5.3). À medida que a carne se mortifica, o espírito fica livre para o exercitar o que ele mais deseja: voar nas asas da graça do Altíssimo: Porque assim diz o Senhor: Eis que voará como a águia... (Jr 48.40); Eis que como águia subirá, e voará... (Jr 49.22); [...] pois passa rapidamente, e nós voamos (Sl 90.10).
           Isso apenas é possível quando a carne é vencida pelo santo jejum, já que a carne quebra o relacionamento com Deus: Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências. Nem tão pouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. (Rm 6.11-14). E mais: Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito (Rm 8.5).
           Logo, pela liberação do espírito, mediante o jejum, oração é mais proveitosa, a meditação na Palavra de Deus torna-se mais profunda e o senso de Sua doce presença é visibilizado de forma intensa.  

         c) É uma arma para os embates espirituais. Jesus disse: Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum (Mt 17.21). “Casta” significa “tipo, raça, linhagem e qualidade”. Isto é, existem demônios determinados para afligir cada parte da vida do ser humano. Há tipos, raças de espíritos que operam apenas em determinadas partes, dentre os quais são descritos nas Escrituras alguns:
         * espírito mudo e surdo: E Jesus, vendo que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai dele, e não entres mais nele (Mc 9.25);
           * espírito de luxúria: O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus (Os 4.12);
           * espírito do erro: Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro (1Jo 4.6);
          * espírito de enfermidade: E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se (Lc 13.11);
            * espírito de adivinhação: E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores (At 16.16);
          * espírito de mentira: E ele disse: Eu sairei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas (1Cr 18.21);
           * espíritos enganadores: Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios (1Tm 4.1);
            * espírito de falsidade: Se houver alguém que, andando com espírito de falsidade, mentir, dizendo: Eu te profetizarei sobre o vinho e a bebida forte; será esse tal o profeta deste povo (Mq 2.11);
          * espírito de ciúmes: Ou quando sobre o homem vier o espírito de ciúmes, e tiver ciúmes de sua mulher, apresente a mulher perante o SENHOR, e o sacerdote nela execute toda esta lei (Nm 5.30);
           * espírito de feitiçaria: E Saul se disfarçou e vestiu outros vestidos, e foi ele e com ele dois homens, e de noite vieram à mulher; e disse: Peço-te que me adivinhes pelo espírito de feiticeira, e me faças subir a quem eu te disser (1Sm 28.8);
        * espírito de escravidão: Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.15).
            Assim, o jejum é uma arma nos embates espirituais contra as potestades do mal. Ele age na expulsão dos demônios, pois, ao santificar-se o corpo, os espíritos malignos que residem nos corpos e nas almas dos desconvertidos são expulsos por intermédio do sacrifício vivo do corpo do servo de Deus — o jejum. Ele é um meio de vitórias nas batalhas espirituais.

          d) Exerce poder medicinal sobre o corpo. O jejum desintoxica o organismo, elimina o excesso de reservas energéticas acumuladas nas gorduras localizadas, torna o corpo mais ágil e menos sujeito às fadigas e previne até doenças. Por conseguinte, ele é um meio de se zelar pelo corpo: o santuário do Espírito Santo! (1Co 3.16,17)

         e) É um meio de humilhação diante de Deus e reconhecimento de Sua soberania: Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face do nosso Deus para lhe pedirmos caminho direito para nós, e para nossos filhos, e para toda a nossa fazenda (Ed 8.21). É também um meio de humilhação perante os juízos divinos, visto que pelo jejuam recorre-se à piedade divina (Sl 35.13; 2Sm 12.16; Jl 2.12). Na certa, aquele que se humilha aos pés do Senhor, a Seu tempo Ele exaltá-lo-á (Tg 4.10; 1Pd 5.6; Lc 14.11).



6 – Como se pratica o jejum

           a) Preparar-se antes de começá-lo. É uma boa iniciativa preparar-se para o jejum. Empanturrar-se de comida (como fazem alguns, horas antes de iniciá-lo) torna-o praticamente sem sentido. É recomendável ir-se eliminando os alimentos pesados, substituindo-os por comida leve, como legumes e frutas não cítricas, até a hora de iniciar o jejum.

       b) O cuidado no término do jejum. Ao encerrá-lo, observa-se o mesmo processo, principalmente se o jejum for prolongado. As transformações do metabolismo e a ausência prolongada de alimentos exigem que a retomada seja parcial, lenta e em menor quantidade, com legumes e frutas não cítricas, isto porque o organismo passou a manter-se através de energias acumuladas no corpo, cessando durante o período a produção de ácidos e enzimas (proteínas encontradas nas células vivas) digestivos. Caso ocorra uma retomada abrupta, o estômago não estará preparado para digestão, ocasionando pesado mal-estar e, até mesmo, danos à saúde.

          c) O jejum costumeiro. Muitos jejuam como mero costume, fazendo com que o jejum perca o seu propósito real com Deus. Assim, acostumam o corpo a jejuar até certo horário, todos os dias. Em verdade, pensam que estão agradando a Deus mediante esse jejum. Por exemplo, há pessoas que levantam e todos os dias jejuam até ao meio-dia. Esta e outras práticas semelhantes não agradam a Deus, visto que o jejum é um “sacrifício vivo” (Rm 12.1). Se fazê-lo por costume, o corpo acostumar-se-á todos os dias, até certo horário, a ficar sem alimento nem água; portanto, não é mais sacrifício, o que, indubitavelmente, o invalida.

            d) Sacrifício exposto. Outros começam o jejum à meia-noite e, ao se levantarem, entregam-no como se já fosse recebido pelo Eterno. É fato que quem estiver jejuando o seu corpo deve estar exposto. Desta forma, a pessoa tem de estar lúcida. Não nos esquecemos que é um “sacrifício vivo”, acompanhado de consagração, oração, louvor e vigilância (At 13.2). Ele sempre está atrelado à ideia do clamor a Deus (Jl 1.14; Nee 9.1). Ao dormir, estamos inconscientes, portanto, nada disso pode ser feito.

          e) Consentimento mútuo do casal. Aos que são casados, os dois devem programar-se para a prática do jejum. Uma vez que o jejum é a entrega do corpo (sem reservas) ao Senhor da Glória — com finalidades espirituais — o certo é que não poderão praticar o intercurso sexual quando jejuarem: “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos defraudeis um ao outro, a não ser por consentimento mútuo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência” (1Co 7.4,5). Assim sendo, os casais não podem jejuar com muita frequência, porque abrir-se-á uma brecha para o Adversário entrar e lançar desejos incontroláveis fora do âmbito do casamento (1Co 7.3; Hb 13.4). Por consequência, as Escrituras ordenam que ambos se apliquem à oração apenas por “algum tempo”. Cabe salientar que quando o texto sobredito diz “oração”, subentende-se mais propriamente o “jejum atrelado à oração”, pois através dele que é feito o uso exclusivo do corpo como obediência e propósito ao Senhor, devido a isso ser-lhe-á impedido o intercurso do casal; enquanto isso a oração, diferentemente, pode ser feita na mente (cf. 1Sm 1.10-15).  
             Se não houver esse consentimento entre o casal no ato de jejuar, o Deus Altíssimo não o receberá (1Pd 3.7).

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